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Arquitetos: Francis Pfenniger
- Área: 155 m²
- Ano: 2014
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Fotografias:Carlos Hevia , Benjamin Holmes, Lorena Gonzalez
Descrição enviada pela equipe de projeto. O LUGAR
Na península de Rilan, frente ao canal de Castro, o terreno cativa por suas vistas e por uma topografia variada. Do alto, por onde se acessa o terreno, um coigüe maduro marca sua presença frente a uma ladeira ampla e verde. Algumas espécies de árvores nas bordas da ladeira limitam a propriedade e a vista, definindo um amplo potreiro onde um grupo de macieiras é evidenciado. Em frente, o canal Castro marca o sul geográfico. À leste, a baía permite uma visão mais distante e relaxada. À oeste, a área é limitada por um pequeno bosque, uma quebrada e um riacho. O terreno é amplo e possui uma marcante - mas não excessiva - inclinação. A vista parece abraçá-lo, mas algumas colinas à oeste nos desmentem.
Percorrê-lo é um descobrimento, um passeio sugestivo. Cheio de cantos, vistas, quebradas, árvores, sugere um espaço mágico e cheio de significados possíveis para crianças e adultos. Aqui há frutas, mais além o bosque nativo, e no outro canto um cipreste ou um pinheiro. O canto de leitura, o mirante, a casa no bosque, a horta, o potreiro das ovelhas, tudo cabe aqui, porque parece que cabem todos os sonhos, todas as imagens, todas as fantasias e toda a magia do Chile.
A PERGUNTA
A moradia é um lar, um lugar para a família, um lugar significante, um lugar que constrói agora as lembranças do futuro. Um lugar que é habitado não somente nas férias, mas sempre que é possível. Neste sentido, um lugar próximo. Um lugar que convida e demanda entrega, projetos, ações e atos. Um projeto que convoca toda a família.
O projeto deve trabalhar com o ideia de como habitar na ladeira, destacando as melhores vistas e assegurando um isolamento e acondicionamento ótimo frente às condições do clima local.
As vistas principais são ao sul e ao leste. As primeiras são espetaculares, mas não recebem o sol. A abertura ao leste assegura vistas distantes e uma boa entrada de luz solar. Em um lugar de muita chuva, neblina e frio, todo o sol é bem-vindo: o sol da tarde, antes que se vá por atrás do bosque. Também o sol do norte, que atinge a parte posterior da edificação; norte este, que provê luz, vento e chuva.
A moradia deve trabalhar com o clima, deve ser acolhedora, deve poder se fechada sobre si mesma, se necessário: é um refúgio. Mas deve expandir-se, abrir-se a festa do sol quando o verão permita, festejar a paisagem, celebrar o jardim, o potreiro e o território em que se insere.
O PROJETO
O projeto está entendido como um refúgio e um mirante que se adapta parcialmente a ladeira. Um primeiro volume concentrado, integrado, simples: um grande manto conforma a cobertura e os fechamentos laterais. As extremidades são peles muito dilatadas, conformadas por uma treliça de madeira em que se desenham os vãos das aberturas. O volume simples faz referência a uma geometria que não é alheia ao lugar e que, de fato parece com uma pequena construção em estado de ruína que já existe no terreno. A residência é acessada através de um hall que chega até a porta principal, feita com madeira de demolição. É pequena, mas adequada para o lugar. Ao passar pela segunda porta, chega-se a um corredor aberto que possui um caráter de ponte e ordena o espaço. À esquerda, a porta do banheiro, os closets e os dormitórios. À direita, a sala de jantar e a cozinha. O desnível permite a criação do assento junto a grande mesa.
As aberturas principais estão à leste do terreno e abrem-se a um terraço coberto. O terraço se prolonga até uma varanda que rodeia a residência e culmina em frente a cozinha.
A segunda etapa está concebida para ser construída sem interferir no construído: uma abertura se transforma em porta. O volume recebe o programa básico descrito e toda esta parte possui um acesso ao segundo banheiro. Um dormitório desce alguns centímetros enquanto o outro está no segundo andar, aproximando-se da inclinação do terreno. Os dois possuem varandas próprias e privadas com vistas privilegiadas.
CONSTRUÇÃO
A construção se propõe reutilizar ao máximo os detritos provenientes da indústria do salmão (onde o cliente trabalha) e da reciclagem doméstica. Um estudo feito por uma estudante da graduação na Universidade do Chile, Nicole García, demonstra que os principais detritos aproveitáveis desta indústria são madeira (na forma de paletes), perfis de aço galvanizado de diferentes secções e geometrias; poliestireno expandido na forma de boias e flutuadores; redes e polímeros de diferentes formas.
A partir deste estudo, decide-se trabalhar principalmente com os paletes, o aço e o poliestireno. Assim, para conformar os planos da residência, é concebida uma subestrutura feita com base nos perfis tubulares de aço galvanizado de 150mm de diâmetro e 5mm de espessura, conectados por vigas também de perfis de aço galvanizado em secções de 150 x 50 x 4mm. Esta plataforma se adapta à peças especiais para receber e suportar a estrutura de madeira que constitui a residência. A estrutura está dimensionada segundo a madeira possível de recuperar, mas que pode se adaptar a qualquer condição: é basicamente uma estrutura de pilar e viga. Ela é feita com postes resistentes de 8 "x 8" em secção. Os postes suportam as vigas de madeira 3 "x 8" em corte, que formam a estrutura básica do edifício. Todas as junções são aparafusadas.
Entre as esquadrias são dispostos os paletes, preenchidos com placas de poliestireno expandido cortado e recuperado do material de balsas e boias, por isso, o projeto está modulado segundo as dimensões dos paletes (1,20 x 1,20 m), que se completam com uma faixa de 1" x 5"em seu perímetro para permitir sua conexão. O revestimento interior é feitos com pranchas de madeira multilaminada. O revestimento exterior está baseado na barreira de umidade das caixas de tetra pack reutilizadas grampeadas nas ripas de madeira dos paletes com a face aluminizada para o exterior.
Sobre elas, está um elemento de 1" que separa o revestimento da fachada ventilada: placas de aço pintadas. A cobertura é a placa de aço e contém um isolamento térmico baseado nas mesmas placas de poliestireno recuperadas. Em alguns dos muros de acesso e de fechamento, se utiliza madeira recuperada de um antigo cais, divida em duas ou três partes. Dispostas aleatoriamente, elas permitem diferentes espessuras, texturas e cores. O piso interior é feito em madeira, já nos terraços e caminhos de acesso ele é feito com placa de aço galvanizado perfurado reutilizadas dos centros agrícolas. As varandas e proteções também são feitas a partir da recuperação do aço galvanizado. Somente nas aberturas e vidros é utilizado um material completamente novo que assegura o conforto térmico da residência: são de PVC e levam vidros duplos.